Corria o ano de 1923. O VASCO acabava de ascender à primeira divisão. Disputava o campeonato carioca com um time orgulhosamente recheado de gente do povo, negros, mestiços, caixeiros viajantes e outros de "profissão duvidosa", como os rascistas da época os classificavam. Findo o campeonato e o VASCO ostentava a primeira de muitas outras faixas de campeão que ainda conquistaria.
Com o orgulho destroçado diante da derrota para o adversário etnicamente inferior, os adversários da Zona Sul tramam sua expulsão do certame seguinte. Solicitam a exclusão dos 12 atletas negros e alegam que o VASCO não possui estádio próprio. Percebendo que o clube da Zona Norte não se submeteria a tais exigências, altivos e cheios de galhardia que eram seus diretores, os adversários criam uma nova liga - a AMEA - para disputarem seu campeonato sem ter que experimentar o desprazer de jogar - e perder - do clube de portugueses, negros e mestiços. Numa atitude final de falsa cordialidade, convidam o VASCO a ingressar na AMEA, na condição de clube sem direito a voto e de inferioridade diante dos outros participantes. Eis abaixo a resposta do presidente do VASCO, que ficou conhecida como "Resposta Histórica", cujo documento original pode ser visto em destaque na sala de Troféus de São Januário.
"Rio de Janeiro, 7 de Abril de 1924.
Ofício nr. 261
Exmo. Sr. Dr. Arnaldo Guinle
M.D. Presidente da Associação Metropolitana de Esportes Atléticos
As resoluções divulgadas hoje pela imprensa, tomadas em reunião de ontem pelos altos poderes da Associação a que V.Exa tão dignamente preside, colocam o Club de Regatas Vasco da Gama numa tal situação de inferioridade, que absolutamente não pode ser justificada nem pela deficiência do nosso campo, nem pela simplicidade da nossa sede, nem pela condição modesta de grande número dos nossos associados.
Os privilégios concedidos aos cinco clubes fundadores da AMEA e a forma por que será exercido o direito de discussão e voto, e feitas as futuras classificações, obrigam-nos a lavrar o nosso protesto contra as citadas resoluções. Quanto à condição de eliminarmos doze (12) dos nossos jogadores das nossas equipes, resolve por unanimidade a diretoria do Club de Regatas Vasco da Gama não a dever aceitar, por não se conformar com o processo por que foi feita a investigação das posições sociais desses nossos consócios, investigações levadas a um tribunal onde não tiveram nem representação nem defesa.
Estamos certos que V.Exa. será o primeiro a reconhecer que seria um ato pouco digno da nossa parte sacrificar ao desejo de filiar-se à AMEA alguns dos que lutaram para que tivéssemos entre outras vitórias a do campeonato de futebol da cidade do Rio de Janeiro de 1923.
São esses doze jogadores jovens, quase todos brasileiros, no começo de sua carreira e o ato público que os pode macular nunca será praticado com a solidariedade dos que dirigem a casa que os acolheu, nem sob o pavilhão que eles, com tanta galhardia, cobriram de glórias.
Nestes termos, sentimos ter que comunicar a V.Exa. que desistimos de fazer parte da AMEA.
Queira V.Exa. aceitar os protestos de consideração e estima de quem tem a honra de se subscrever, de V.Exa. At. Vnr. Obrigado
(a) Dr. José Augusto Prestes Presidente"
O VASCO se manteve na Liga original e foi Bi-Campeão Carioca, desta feita invicto. Observem que a segunda vez que os inimigos da Zona Sul se uniram contra o VASCO foi no distante ano de 1924 - já haviam unido forças um ano antes para impedir o título de 1923, mas isso é história para outro post.
Em 1925 o VASCO recebe novo convite para integrar a AMEA, desta vez sem precisar sacrificar seus atletas negros e pobres. A única condição imposta é de que mandasse seus jogos no campo do Andarahy. Demonstrando fidalguia, o VASCO aceita o convite e se submete à condição imposta. Mas sentindo-se desconfortável com a concessão feita, resolve construir seu próprio estádio. Reune então seus associados e toda a colônia portuguesa em torno da campanha de arrecadação dos valores necessários para aquisição do terreno e construção do estádio.
Em 1927 o VASCO inaugura o que era então o maior estádio da América do Sul. Ainda em 1928, inaugura um moderno sistema de iluminação, o que fazia com que São Januário fosse o único estádio do Brasil a abrigar jogos noturnos.
Vídeo da música "Camisas Negras", que resume bem o sentimento dos vascaínos em relação a São Januário
Palco de vários eventos históricos, como a anunciação da CLT, feita pelo Presidente Vargas, da Tribuna de Honra do estádio, São Januário contribuiu com vários episódios para a construção do vocabulário futebolístico usado até hoje. O Gol Olímpico é chamado assim após o VASCO, num amistoso contra o time uruguaio do "Wanders", ter vencido com um gol assinalado em cobrança direta de escanteio. Como o Uruguai era então o campeão olímpico de futebol, o gol foi assim chamado em alusão àquela conquista do futebol Uruguaio. Há ainda a história do jogador argentino, que jogava no VASCO, chamado "Gandula". Como não havia se adaptado ao estilo de jogo do clube brasileiro, o jogador, tentando se mostrar útil ao time, se incumbia de apanhar as bolas chutadas para longe do campo, dando assim origem à expressão "gandula".
Fonte: SuperVasco.com
Depois de atender às exigências dos rivais e construir seu estádio, O VASCO se vê novamente confrontado pelos crápulas da Zonal Sul. Qual é o argumento agora para não jogarem em São januário? Vão mais uma vez depreciar o VASCO como forma de justificarem os próprios fracassos e incompetências? Será despeito pelo fato do único clube carioca ter estádio próprio ser justamente o clube da Zona Norte, o clube dos portugueses, pobres e negros? Ou será porque o estádio é ao lado da favela que leva o nome do vizinho ilustre - Barreira do Vasco?
Sabe de uma coisa?, acho mesmo que é medo. Eles se borram de medo de enfrentar o VASCO em seus domínios. A conclusão é lógica. Mesmo alijado de seu direito de mando de campo, o VASCO sempre enfrentou a corja com grandeza. Mesmo sem utilizar seu estádio nos conforntos diretos contra eles, o VASCO acumula vitórias e glórias em sua história. Imaginem os senhores se, nos últimos 80 anos, o VASCO tivesse feito valer seu mando de campo. Eles sabem o que isso representa. Mas chega de colher de chá, chega de moleza, chega de dar aos adversários a chance de nos enfrentar em igualdade de condições (sim, o VASCO quando joga no campo adversário se iguala a ele. Em casa, o VASCO é muito maior).
A TORCIDA DO VASCO EXIGE CLÁSSICOS EM SÃO JANUÁRIO.
Ou o que pretendem fazer? Nos expulsar de novo? Não dá mais. Os três juntos não derrubam o Gigante.
SAUDAÇÕES VASCAÍNAS !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Curtas:
* O Maracanã também é a casa do VASCO, assim como é de todos os clubes do estado do Rio de Janeiro.
* Os três rivais NUNCA tiveram competência ou grandeza para construir um estádio próprio decente, com ou sem ajuda do governo. Agora que se fodam.
* O nosso foi construído sem um único centavo público. Pelo contrário, Washington Luis, o presidente à época, proibiu a importação de cimento Belga, já usado na construção do Jockey Club da Gávea, na tentativa de atrapalhar e atrasar as obras do VASCO. Não adiantou.
* Não conseguimos as três vitórias consecutivas que eu esperava - empatamos com os bambis - mas o título sai assim mesmo.
Grande texto, meu caro! E repito o que te disse: o título, ficando aí no Rio ou aqui em SP, estará em boas mãos. A congruência de nossas histórias populares e de lutas contra essa burguesia de merda merece isso.
ResponderExcluirQue vença o melhor! Abraços!
Está bem. Vamos obedecer a lei e para com esse negocio de divisão de ingressos. É 10% e pronto.
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