Sempre me orgulhei de ver São Januário como uma das últimas trincheiras do bom e verdadeiro futebol com alma. Dava gosto ver a Colina em dias de grandes jogos. O entorno do estádio, salpicado de barraquinhas de churrasquinho, cachorro-quente e afins, ia enchendo de pessoas e de tensão a medida que o jogo se aproximava. Os amigos, muitos e fiéis, todos com copo de cerveja na mão, teciam comentários e raciocínios tão mais complexos e confusos, quanto mais bebiam e se embriagavam. Mas o clima era delicioso e o papo obrigatório. Faltando aproximadamente 30 minutos para o início da peleja, iniciávamos o cortejo em direção à entrada das arquibancadas. Os torcedores se organizavam, formando filas, para entrar no estádio já bastante cheio - É importante frisar que o torcedor de estádio, o torcedor de verdade, tem lá suas regras e leis próprias. Nada está escrito. Todo entendimento é tácito. Um comportamento inerente à condição de torcedor de arquibancada - Uma dessas regras dizia respeito ao tratamento dispensado a crianças, mulheres e idosos no tumulto que cercava a entrada do estádio nesses dias de grande público. Uma educação que não se julgava existir aflorava e, a esse grupo especial, era destinado todo respeito e prioridade que era merecido e necessário por sua própria condição de fragilidade no meio da turba ensandecida. Chegar na arquibancada e ver a torcida ocupando todos os espaços e sentir o cheiro da ansiedade era um momento único. Então, o espetáculo propriamente dito começava. Primeiro eram os rolos de papel higiênico, que seriam lançados à entrada do time em campo, sendo distribuídos fartamente. Depois de devidamente municiada, a torcida presenciava o ritual que era a entrada das bandeiras no anel da arquibancada. Em dias de jogos especiais, esse espetáculo durava aproximadamente 5 minutos, tamanha era a quantidade de bandeiras. TOV, Pequenos Vascaínos, Vila Vasqueire e outras torcidas se sucediam apresentando seus pavilhões, todos belíssimos, até começar o show da Força Jovem, a que mais tinha bandeiras. Todos a postos, era o momento de aguardar a entrada do time em campo, entoando cânticos de guerra, de provocação, todos recheados de belíssimos palavrões, exaltando o amor incondicional à Cruz de Malta e denegrindo e enxovalhando o inimigo, prestes a ser abatido. Eis que o esquadrão vascaíno aparecia na boca do tunel. A chuva de papel higienco, somada às inúmeras bandeiras desfraldadas, acompanhadas do ensurdecedor VAAAASCOOOO, extasiavam os espectadores com um show inesquecível. Foi assim durante muito tempo. Não é mais.
9:40 da noite chuvosa. Quarta feira de cinzas. Entrada das arquibancadas da General Almério de Moura. Estádio de São Januário. Um indivíduo, identificado como "orientador" conforme exige o estúpido estatuto do torcedor, chama a atenção de um rapaz que invadiu o corredor, formado pelas grades para "organizar" a entrada da arquibancada, furando a fila:
- Ô meu amigo, eu te vi. Isso é falta de respeito, porra!
Eu, puto que estava por ter que dar TODA a volta no estádio debaixo de chuva, uma vez que havia comprado um inacreditável ingresso de "ARQUIBANCA RETA", cujo acesso se dava exclusivamente pelas entradas da Rua Francisco Palheta, passava no exato momento que o tal "orientador" bufava. Não prestou.
- E o que é respeito, caralho? Respeito é jogo às 10 da noite? Respeito é tratar o torcedor como gado, com esse curral escroto? Respeito é colocar ingresso a 10 reais, chamando o torcedor, e só disponibilizar 2 bilheterias pra esse povo todo? Isso é o que você chama de respeito? Quem são vocês pra exigir respeito de alguém?
Não me dei conta de que no tom que falava atraí uma pequena audiência. Não fiquei para ver o tumulto que se seguiu. Tratei de continuar andando. Tinha uma volta inteira para dar no estádio, caso eu quisesse ver meu time entrando em campo. Esse foi o primeiro desabafo da noite. O segundo foi dirigido ao juiz, o terceiro ao Rômulo - como esse rapaz pode ser titular? - o quarto...o quinto...Foi uma noite de desabafos, como tem sido todas em que há jogos do VASCO nesse campeonato estadual. Não houve papel higiênico, sinalizadores, cerveja dentro do estádio - TUDO PROIBIDO - em obediência às ordens do GEPE e do tal estatuto. MALDITO SEJA O FUTEBOL MODERNO.
Vencemos, é o que importa. O primeiro tempo foi muito bom. O segundo foi muito ruim. O VASCO que destroçou o Ameriquinha e o Comercial foi muito bom. O VASCO que perdeu para o Macaé foi muito ruim. Tem sido assim. Qual dos dois VASCOS vai se firmar e jogar o resto da temporada?
SAUDAÇÕES VASCAÍNAS !!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Curtas:
* O Eduardo Costa não sai mais. O Rômulo não entra mais, se Deus quiser. Gostaria de ver o Eduardo Costa jogando ao lado do Felipe Bastos.
* O assunto predominante ontem era o atual quadro político do VASCO e as eleições que se avizinham.
* Ainda sobre o pleito, recebi ontem a informação que o Fernando Horta vai voltar a ser candidato. Essa indefinição arrefece um pouco o entusiamos dos seus admiradores e pode prejudicar sua votação.
* O jovem Bernardo me lembrou o então jovem Edmundo. Futebol de explosão, insinuante e com personalidade. Tomara que repita a brilhante e vencedora trajetória do ídolo com a lendária camisa vascaína.