Me refiro ao Club de Regatas Vasco da Gama, à instituição, fundada há quase 112 anos na contra-mão do óbvio, abrigando sob seu pavilhão os excluídos e indesejados; aqueles que não encontravam espaço nas instituições sociais elitistas que havia então. O VASCO foi a resposta da comunidade lusa à rejeição que sofria a turma do "P": O Preto, alforriado de pouco, logo inútil; o Pobre, ainda hoje excluído; e o Português, figura execrada e ridicularizada pela elite republicana recém alçada ao poder, por representar a memória do império colonizador. Assim que fundado, a elite sentenciou: Não dura 10 anos, o clubezinho dos portugueses...O clube chegou ao 10º aniversário mais forte que supunham os sócios mais otimistas. Após a fusão com o Lusitânia e o ingresso no futebol, o esporte dos brancos ricos da época, novo vaticínio: Não vão a lugar algum; nem campo têm. O clube dos excluídos foi campeão carioca logo no seu ano de estréia na 1ª divisão. Para ratificar sua sina vitoriosa, tornou-se Bi-Campeão em 1924. Pronto: Essa gentalha chega, ganha tudo, e ainda joga com o time cheio de pretos, disseram à época os rivais da Zona Sul - Que absurdo!!!!! Se quiserem jogar no meio de gente decente, construam um campo de futebol e excluam os negros e analfabetos do time. Essas foram as resoluções tomadas em reunião ocorrida na sede da AMEA, a FFERJ da época, presidida por Arnaldo Guinle, ícone da elite racista carioca e mandatário do Fluminense. Pois a portuguesada respondeu assim: A RESPOSTA HISTÓRICA. O texto na íntegra pode ser lido no link. Mas destaco esse trecho, que mostra o verdadeiro espírito do vascaíno e do Clube da Cruz de Malta:
"...São esses doze jogadores jovens, quase todos brasileiros, no começo de sua carreira e o ato público que os pode macular nunca será praticado com a solidariedade dos que dirigem a casa que os acolheu, nem sob o pavilhão que eles, com tanta galhardia, cobriram de glórias.
Nestes termos, sentimos ter que comunicar a V.Exa. que desistimos de fazer parte da AMEA..."
O VASCO não se curvou à pressão dos poderosos da Zona Sul. O VASCO ratificava nesse momento sua origem VERDADEIRAMENTE POPULAR, e escrevia uma das páginas mais bonitas da história do desporto nacional. Manteve os "pretos" e constriu São Januário, A Colina Sagrada, que dispensa apresentações pelo que representa para o futebol brasileiro. Ainda hoje, passados mais de 80 anos, os rivais continuam sem estádio pra jogar...
Seguiu durante anos assim: altivo, orgulhoso e vencedor, para desespero de seus rivais de zona sul. O clube da portuguesada inconveniente frustrou todas as expectativas, se manteve vivo e se tornou um Gigante. Em 1937 a elite se rende, e, para o bem do futebol carioca, o VASCO volta para a liga onde jogavam os três clubes dos ricos. O "Clássico da Paz", jogado entre VASCO x América, sela o retorno do VASCO ao convívio dos demais.
A sanha de vitória continua a mesma; e o clube do subúrbio segue vencendo, segue altivo e orgulhoso. No final da década de 40, o Expresso da Vitória torna o VASCO odiado e invejado: O clube vence tudo, e se torna o primeiro clube brasileiro campeão de um torneio no exterior, O Campeonato Sulamericano de Clubes Campeões, disputado no Chile. A torcida orgulhosa, já gigantesca e espalhada por todo o país, não para de crescer. As glórias se acumulam; o VASCO segue vitorioso. E assim eu conheci o meu clube, um Gigante, odiado e respeitado pelos rivais. Temido por todos, onde fosse jogar. A Cruz de Malta, que adorna nossa lendária camisa, granjeava pavor em uns e veneração em outros. Assim era o VASCO...
A caricatura de time que hoje enverga essa camisa, não honra essa história. A diretoria, capitaneada pelo ídolo eterno, não honra essa história. O VASCO caminha para o posto de coadjuvante, caso permaneça em São Januário essa política atual. Já são dois anos da nova administração. Não me venham falar em herança maldita. TODOS os clubes de futebol devem milhões. O VASCO não é exceção. A corja da gávea foi patrocinada por uma estatal durante 20 anos, devendo a tudo e a todos, e as tais certidões nunca foram empecilho para o recebimento das cotas de patrocínio. O timezinho de General Severiano, igualmente afogado em dívidas e patrocinado por estatal, recebe suas cotas de patrocínio. Só o VASCO não consegue as famigeradas certidões.
A atual diretoria, durante a campanha, propalava aos quatro ventos - uma fila de patrocinadores vai se formar diante da sede no dia seguinte à posse. O resultado da auditoria contratada para devassar as contas da direção anterior até agora não foi divulgado. O VASCO, com raríssimas exceções (Cazalber), só contrata jogadores medianos e técnicos novatos e inexperientes (Tita, Mancini, Gaucho). O time não empolga o torcedor mais fanático. O Clube, assimilando o perfil extremamente passivo da diretoria, vai se tornando opaco, sem brilho, sem espaço na mídia, quase inspirando simpatia ou compaixão naqueles que outrora foram seus rivais mais ferrenhos...
Futebol é guerra, senhores. Disse guerra, não disse violência. Futebol não se ganha com simpatia, sorrisos, fair play, fleuma...Futebol se ganha com raça, audácia, sangue nos olhos e coração na ponta da chuteira. Futebol se ganha com o espírito que norteava esse clube até algum tempo atrás. Espírito que tornou o VASCO um clube respeitado e vencedor.
Quero o VASCO de volta. À merda todos os rivais da zona sul. Fodam-se todos os rivais paulistas, mineiros, gaúchos...
É hora do verdadeiro vascaíno erguer a cabeça, se inspirar na história e cobrar. Exigir o VASCO de volta. Exigir que se retome o espírito dos nossos fundadores. Eles deixaram o legado: É desafiando o óbvio e os poderosos que se constrói um clube campeão !!!
SAUDAÇÕES VASCAÍNAS !!!!!!!!!!!!!!!
Curtas:
* E, por favor, não me venham dizer que criticar essa diretoria é apoiar a oposição ou defender o ex-presidente. O ídolo-presidente não é imune a críticas. Muito acima dele paira o VASCO, maior que ele e que todos nós.
* Quarta-feira, durante os 90 minutos de bola rolando, apoio total. Pressão em cima do time pequeno de Salvador. Antes e depois do jogo, pressão em cima da diretoria de pensamento pequeno.
* Aonde estão os vascaínos ricos e ilustres que se negavam a ajudar enquanto o Eurico fosse presidente? Vão continuar se omitindo?